Igarapé-Miri é um
município brasileiro do
estado do
Pará. Localiza-se a uma
latitude 01º58'30" sul e a uma
longitude 48º57'35" oeste, estando a uma altitude de 17 metros. Sua população estimada em 2010 é de 58 023 habitantes.
Histórico
Firmadas definitivamente as bases do domínio português na
Amazônia, expulsos de vez os invasores
britânicos,
batavos e
franceses das fortificações que haviam construído ao longo de vastas áreas do litoral, foi possível a penetração dos colonos em maior escala nas zonas até então pouco exploradas.
Atravessando os mais inóspitos caminhos à procura de terras férteis e de fortuna fácil, o colonizador começou a fincar os alicerces das inúmeras propriedades fabris e rurais de que falam as crônicas do século XVII. As cartas
sesmarias concebidas pelo rei às pessoas de bons haveres prodigalizaram a vários desses beneficiados meio de fortuna rápida.
No reinado de dom João V, no lugar onde hoje é a cidade de Igarapé-Miri, foi construída uma fábrica nacional para beneficiamento de madeiras, que, daí eram exportadas para
Belém, em abundância e das melhores qualidades.
Das Fábricas Nacionais da Província do Grão Pará, a de Igarapé-Miri foi a que mais se desenvolveu, concorrendo, para isso, o fato de estar situada em terrenos planos, sólidos e férteis, que se estendiam desde o Rio Santana de Igarapé-Miri, pelo centro até o Rio Itanimbuca, numa distância de légua e meia. Acrescenta-se a circunstância de lá não serem conhecidas as febres palúcidas, que grassavam em grande parte do interior do estado do Pará.
Segundo as informações contidas nos folhetos do tenente-coronel Agostinho Monteiro Gonçalves de Oliveira, intitulados "Crônica de Igarapé-miri", as origens do município antecedem ao reinado de
dom João V, no início do século XVIII.
Já nessa época, no lugar conhecido como Igarapé-Miri, às margens do
igarapé de mesmo nome, existia a fábrica nacional para aparelhamento e extração de madeiras de construção, que eram comercializadas em Belém. De todas as fábricas do ramo no Pará, aquela era a mais proveitosa, considerando estar situada em terrenos planos, sólidos e férteis, margeada, em sua maior parte, pelo igarapé Cataiandeua, pelo qual desciam facilmente as madeiras ali lavradas.
Em 10 de outubro de 1710, João de Melo Gusmão conseguiu, do governador, o capitão-general Cristóvão da Costa Freire, a cessão de uma sesmaria contendo duas léguas de terra no Igarapé-Miri, muito embora não tenha fixado residência no local. Esse ato do governo, em favor de quem não residia sequer nos terrenos cedidos, causou grande descontentamento entre os posseiros, agricultores e comerciantes ali estabelecidos, que exigiram elevadas indenizações pelas benfeitorias por eles efetuadas no lugar. Por esse motivo, Gusmão foi obrigado a vender-lhes a maior parte dos terrenos, cabendo ao agricultor e comerciante português Jorge Valério Monteiro, comprar a parte onde estava situada a referida fábrica. A fertilidade do solo do então povoado de Igarapé-Miri, a riqueza de seus habitantes e o brilhantismo das festas religiosas atraíram muitos estrangeiros que acabaram por se estabelecer naquelas terras.
Pouco tempo depois, Jorge Monteiro casou-se com Ana Gonçalves de Oliveira, filha do próspero agricultor Antônio Gonçalves de Oliveira. A excelente compra que fizera e o bom casamento realizado deu-lhe rápida prosperidade.
Foi dona Ana quem trouxe de Portugal a devoção a Sant'Ana; daí é que Monteiro mandou construir, em 1714, uma bela capela sob a devoção/invocação da santa, na qual eram realizados grandes festejos anuais.
O português Jorge Monteiro enriqueceu tanto que, em 1730, resolveu voltar para a Europa, vendendo suas propriedades para o agricultor João Paulo Sarges de Barros.
Sarges de Barros também prosperou com a fábrica do povoado de Igarapé-Miri. Além disso, continuou com a tradição da Festa de Santana, tornando-a, porém, mais pomposa. Reconstruiu a capela, ampliando-a e preparou a área a sua volta para as barraquinhas dos festejos. Por ocasião da visita do bispo D. Frei Miguel de Bulhões, a capela de Santana recebeu o predicamento de paróquia, no dia 29 de dezembro de 1754.
Um dos filhos de João Paulo de Sarges de Barros, João Sarges de Barros, ordenou-se padre e foi o primeiro vigário da paróquia de Igarapé-Miri, ali permanecendo até seu falecimento, em 1777.
Coube a Sebastião Freire da Fonseca (apelidado de Carambola e natural de Mazagão da África), proprietário de uma fazendola no povoado de Igarapé-Miri, o feito de escavar um canal de navegação para substituir o antigo Furo Velho que estava abandonado e obstruído. As obras tiveram início em 1821, sendo concluídas, de forma incompleta, em novembro de 1823, em virtude de um desastre que lá aconteceu. Apesar disso, o novo canal constituiu-se numa obra capital para o desenvolvimento da região, uma vez que a navegação tornou-se franca.
A então freguesia de Santana do Igarapé-Miri sofreu com os rigores da guerra da Cabanagem, em 1835, tendo oferecido resistência aos invasores na figura do juiz de paz, José Antônio Pereira de Castro. Na mesma época em que invadiram Belém, em agosto, os cabanos - chefiados por Manoel Domingos, Alexandre Carlos, Manoel de Souza e João de Souza - cercaram a freguesia de Igarapé-Miri, exigindo-lhe a rendição. Como houve resistência em se entregar, os combates começaram. Com a vitória dos revoltosos, os cabanos invadiram a Freguesia e deram início a atos violentos, através de fuzilamentos, na Praça da Matriz, e assassinatos com armas brancas.
Em 1836, com a chegada das forças legais, os cabanos começaram a ser derrotados nas vilas e lugarejos onde tinham se estabelecido. Assim, a freguesia de Igarapé-Miri voltou à legalidade, através da ação do tenente João Lima de Castro Gama, auxiliado por José Alves, José Gonçalves Chaves e Ambrósio José da Trindade.
Em 1843, a Lei 113, de 16 de outubro, concedeu à freguesia de Igarapé-Miri a categoria de Vila, instituindo, ao mesmo tempo, o respectivo Município. No ano seguinte, o Decreto Legislativo nº 118, de 11 de setembro, anexou à vila de Igarapé-Miri as freguesias de Abaeté e Cairari. A instalação do Município ocorreu, efetivamente, dois anos após a sua criação. Vitorino Procópio Serrão do Espírito Santo foi o primeiro presidente da Câmara Municipal, instalada, conjuntamente com o Município, em 26 de julho de 1845.
Em 1877, através da Lei 885, de 16 de abril, a freguesia de Abaeté foi desmembrada do município de Igarapé-Miri e passou a integrar o patrimônio jurisdicional de Belém, até o ano de 1880, quando foi elevada à categoria de Vila.
Com o advento da república, o Governo Provisório do Pará extinguiu as Câmaras Municipais, a 19 de fevereiro de 1890, pelo Decreto Sessenta, criando, em seu lugar, o Conselho de Intendência, através do Decreto, de 20 de fevereiro do mesmo ano, nomeando Francisco Antônio Lobato Frade para presidente.
Em 1896, a vila de Igarapé-Miri ganhou os foros de cidade, mediante a Lei 438, de 23 de maio de 1896.
E, em 8 de agosto de 1888, um miriense, de nome Antônio Manoel Correa de Miranda, filho do tenente-coronel das antigas milícias Manuel João Correia de Miranda e de Alexandrina Antonia Sousa Miranda, casado com Leopoldina Campos com quem teve quatro filhos, dos quais apenas sobreviveram dois: Antônio Miranda Filho e Eufrosina Miranda, que foi agraciado com o título de Barão de Cairari por carta-imperial em 8 de agosto de 1888.
Após a vitória da Revolução de 1930, o Decreto Seis, de 4 de novembro daquele ano, extinguiu o município de Igarapé-Miri, anexando-o ao território de Abaetetuba. Todavia, quase simultaneamente, pelo Decreto Estadual 78, de 27 de dezembro seguinte, voltou a ganhar a sua autonomia municipal.
Atualmente, o município está constituído pelos distritos de Igarapé-Miri (sede) e Maiauatá.
Cultura
Um extenso calendário de festividades movimenta a população do município de Igarapé-Miri durante todo o ano.
É muito conhecida pela tradicional festa de Sant'Ana, que é a padroeira da cidade. A festa teve início no ano de 1714, quando foi erguida a primeira igreja da santa. As comemorações acontecem no período de 16 a 26 de julho, e inicia com o Círio terrestre, no qual, pela manhã, a imagem da santa sai da Igreja Matriz, localizada na sede municipal, e segue em procissão rodoviária pelas principais ruas de Igarapé-Miri, até chegar à centenária igreja da vila de Maiuatá, distante 17 km da cidade, de onde sairá a procissão fluvial. O Círio fluvial acontece no último dia da festa, à tarde, percorrendo os rios Meruú e Miri, e retornando à igreja Matriz. As festividades são acompanhadas de arraial e leilões de animais e artigos diversos oferecidos pela comunidade.
Destaca-se, ainda, a Festa de São Sebastião, com festejos que começam desde o dia 9 de janeiro, com a "ramada", isto é, o embandeiramento da casa de festejo, embora a festa seja realizada somente no dia 20 desse mês. O Círio é realizado no dia 11, e, no dia 20, dá-se a derrubada do mastro.
A festas de Santo Antônio dos Inocentes e de Santa Maria da Boa Esperança, realizadas nos meses de junho e agosto, respectivamente, completam o calendário de eventos religiosos do município.
Entre as manifestações culturais de Igarapé-Miri, há o originalíssimo auto junino, cultivado apenas no Município, representado pelo grupo Cordão do Camarão. Os bois-bumbás "Estrela D'alva" e "Flor de Ouro", e o "Pássaro Galo" completam o quadro das manifestações populares no Município. Por ocasião das festas juninas, as escolas e os grupos locais organizam quadrilhas.
A produção artesanal é variada. Do barro, são confeccionados alguidares e vasos; da tala, os artesãos produzem peneiras, paneiros, tipitis, chapéus e matapis; do ouriço da castanha e da casca de sapucaia, são fabricados vasos; da casca do côco, são confeccionados cinzeiros e bonecas, entre outros.
O patrimônio histórico de Igarapé-Miri é formado pela igreja de Sant'Ana, pela Casa da Cultura e a pela capela do Bom Jesus.
Os únicos equipamentos culturais de que a cidade dispõe são uma Biblioteca Municipal e a Casa da Cultura.
É conhecida como a capital mundial do
açaí, por ser o município com maior produção mundial do mesmo.
Solos
Os solos do Município são formados, com grande expressividade, pelos seguintes tipos: Latossolo Amarelo distrófico, textura média e argilosa, Podzol Hidromórfico e Concrecionários Lateríticos indiscriminados distróficos, textura indiscriminada.
Nas várzeas, aparecem pequenas manchas de Gleys Pouco Húmico distróficos e eutróficos e Aluviais eutróficos e distróficos.
Vegetação
Pouco resta da cobertura florestal primitiva, que pertence ao subtipo Floresta Densa de terra firme, e que recobria, indiscriminadamente, a maior parte do Município. Hoje, em seu lugar, existe a Floresta Secundária, intercalada com cultivos agrícolas.
Já as áreas de várzea, apresentam sua vegetação característica de espécies hidrófilas (que gostam de água), latifoliadas (de folhas largas), intercaladas com palmeiras, dentre as quais se destaca o açaí, por ser de grande importância na alimentação da população local.
Patrimônio Natural
A alteração da cobertura vegetal, observada nas imagens LANDSAT-TM, do ano de 1986, foi de 44,75%.
Como acidentes geográficos que necessitam de preservação, destacam-se os rios Igarapé-Miri e Maiauatá, além de algumas ilhas, como da Serraria, Cueca e Cuequinha.
Topografia
O Município apresenta cotas topográficas pouco elevadas, tendo como referência a sede municipal, que atinge 20 metros de altitude. Porém, ao sul do Município, essas altitudes são mais elevadas, alcançando até o dobro da cota medida na cidade.
Geologia e Relevo
O Município apresenta sua geologia formada por sedimentos do Terciário (Formação Barreiras), na porção continental, e sedimentos do Quaternário Antigo e Recente, nas áreas de várzeas e ilhas fluviais.
Sendo assim, o relevo apresenta grande simplicidade, representado por formas típicas de tabuleiros (baixos platôs), terraços e várzeas, que fazem parte da unidade morfoestrutural do Planalto Rebaixado da Amazônia (Baixo Amazonas).
Hidrografia
O principal rio de Igarapé-Miri é o Meruú, coletor de quase toda a bacia hidrográfica do Município. Seus principais afluentes pela margem direita são o rio Igarapé-Miri, em cuja margem está localizada a sede municipal, e o rio Itanambuca, que limita o Município, a nordeste, com Abaetetuba. Pela margem esquerda, o principal rio é o Cagi, limite natural a sudoeste, com o município de Cametá, desde as nascentes até seu curso médio.
O rio Maiauatá, que banha a Vila do mesmo nome, serve de ligação entre o rio Meruú e a foz do rio Tocantins.
O Município possui ilhas fluviais, banhadas pelas águas do estuário do Tocantins, entrecortadas por uma série de cursos d'água conhecidos como furos e igarapés.
Clima Equatorial
O clima do Município corresponde ao megatérmico, tipo Am da classificação de Köppen, apresentando temperaturas elevadas, com média anual de 27°C, e pequena amplitude térmica.
A umidade relativa apresenta valores acima de 80%.
A precipitação pluviométrica anual apresenta-se acima de 2.000 mm, com chuvas abundantes de janeiro a junho, com maior disponibilidade de água nos três primeiros meses do ano (balanço hídrico) e carência, nos meses de setembro e outubro.Esse clima coresponde também ao clima da região norte sendo equatorial quente e úmido.
Referências
Fonte WEB: Wikipédia.